Por que comecei a aprender libras?

Por Mariana Santos¹

Quando eu comento com as pessoas que faço curso de LIBRAS, com frequência elas me fazem as seguintes indagações “o que é LIBRAS?”, “pra que você faz esse curso?”, “tem alguém Surdo na sua família?” …

Para começar, o que significa LIBRAS? LIBRAS é a sigla de Língua Brasileira de Sinais, é a língua utilizada pelos Surdos para se comunicarem (não é uma linguagem de gestos como muitas pessoas consideram). É uma língua com suas regras e estruturas gramaticais.

Gostaria de compartilhar com vocês sobre a minha história com a LIBRAS. Me recordo que desde criança, ao observar os Surdos conversando eu me fascinava, parecia algo que me hipnotizava. As conversas entre os Surdos me deixavam extremamente curiosa, mas essa curiosidade era muito além de saber o que estava sendo dito, eu queria saber como era se comunicar fora do mundo dos sons. Porém, não tive nenhum contato com a LIBRAS ou com Surdos na infância.

Após começar a faculdade de psicologia, comecei a me indagar de como era a psicoterapia para um Surdo. E em algumas pesquisas, vi que quando eles realizavam consultas com médicos por exemplo, precisavam de alguém para interpretá-los. Mas, como fazer o processo terapêutico com um interprete? Então, comecei a procurar psicólogos que sabiam LIBRAS e descobri que estes profissionais são bem escassos.

Após concluir a faculdade, comecei a buscar cursos de LIBRAS para aprender e começar a atender os Surdos. Mas, por não ter nenhum conhecimento da língua, achei que poderia aprender em 6 meses. Já que tinha visto algumas aulas no youtube e aprendido alguns sinais achei que seria fácil. Mas, me enganei!

Me matriculei na DERDIC. No primeiro dia de aula levei um susto enorme, eu sabia que os professores eram Surdos, mas achava que teríamos interpretes nas aulas e que seria tranquilo. Quando percebi que seriamos apenas nós e o professor, meu coração gelou.

Já nas primeiras aulas comecei a perceber a importância de não ter interprete e o quanto isso facilitava para aprender os sinais, mas confesso que mesmo assim queria interprete nas aulas. Compreendi também que aprender LIBRAS estava muito além de fazer expressões faciais, aprender os sinais e a estrutura da língua. Entendi que aprender LIBRAS era entender que ser Surdo não era apenas não escutar (como eu achava até aquele momento), mas que é uma identidade.

Comecei a entender algumas lutas da comunidade surda, compreender que algumas convenções da cultura ouvinte não fazia sentido para os Surdos e passei a entrar um pouco neste universo. E quanto mais eu me envolvo, mais me apaixono!

Por outro lado, quanto mais envolvida eu me encontro com este universo fascinante, mais indignada eu fico com a falta de acessibilidade, com a falta de LIBRAS nas escolas regulares e com o esquecimento da Língua Brasileira de Sinais pelos governantes que não permite que a população em geral conheçam mais sobre essa língua, que é a segunda língua oficial do Brasil.

Hoje percebo o quanto ela é importante para o Surdo e o quanto a falta de contato com essa língua, causa prejuízo para as crianças Surdas que crescem em uma família ouvinte sem o contato com a LIBRAS.

Sei que os Surdos lutaram muito pelo reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e que esta luta não terminou. Mas, também sei que quanto mais pessoas apoiarem esta luta, maior será o sucesso!

¹É Psicóloga formada pela UNIP (2013). Trabalhou durante 7 anos na área organizacional, atuando com recrutamento e seleção, sendo responsável também pela contratação de Pessoas com deficiência. Esta experiência a sensibilizou para a questão da inclusão dentro do meio empresarial e a falta de preparo dos gestores, além de fazer repensar sobre a inclusão dentro do contexto clinico. Atualmente, cursa o módulo avançado de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) na DERDIC/PUC-SP, com intuito de me capacitar para fazer uma clinica acessível as pessoas Surdas.  Trabalha na área clinica no atendimento de crianças, adolescentes e adultos.

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